Miguel Veiga. "A destruição da classe média é para mim o mais terrível"
Por Luís Claro, publicado em 31 Out 2012 - 03:10 | Actualizado há 7 horas 26 minutos
O histórico do PSD considera essencial alargar a base da governação ao PS para salvar o país
O fundador do PSD pensa que não é com visões neoliberais que o governo consegue ultrapassar esta crise e defende que o país só sairá desta situação com políticos com outra “espessura”. No dia em que é votado o Orçamento na Assembleia da República, Miguel Veiga classifica o aumento de impostos como “aterrador” e lamenta que a política do governo esteja a destruir a classe média.
O Orçamento do Estado para 2013 é hoje votado na generalidade. É um Orçamento realista?
É um Orçamento muito difícil e sobretudo muito difícil de vir a ser cumprido. É de tal maneira pesado e restritivo que levanta seríssimas dificuldades de execução.
Um dos aspectos mais contestados é um enorme aumento de impostos, como disse o ministro das Finanças.
A começar por aí. É aterrador. Ainda vem impor mais sacrifícios e mais restrições aos portugueses, sobretudo à classe média. Esta destruição da classe média portuguesa é para mim o mais terrível. Não há nenhum país que possa sobreviver com estes ataques à sua classe média e, além do mais, aquilo que me parece é que muitos portugueses se verão ainda mais afogados. E não vejo como é que a economia possa reacender ou reactivar--se dentro destas circunstâncias. Eu infelizmente tenho de dizer que estou pessimista. Gostava de ter esperança, como alguns têm, mas a esperança tem de ter uma base de racionalidade, e é isso que eu não vejo nesta governação.
Esta governação está a distanciar-se da social-democracia?
Eu sou um homem de convicções social--democratas e o coração da social-democracia é o Estado social. E eu vejo que esse Estado social está cada vez mais apertado, mais limitado, mais asfixiado. Sei que os tempos são outros e que o Estado-providência, que foi a fonte de bem-estar da Europa durante muitas décadas, entrou num estado de carência. E portanto a social-democracia teve de se adaptar às circunstâncias.
E como é que se resolve esse dilema ou essa contradição?
Há uma coisa que eu sei. Não é com visões liberais ou neoliberais.
Este governo tem essa visão neoliberal?
Está bastante inclinado para soluções que me parecem neoliberais.
O governo já anunciou a necessidade de cortar 4 mil milhões de euros do lado da despesa. É compatível um corte desta dimensão com a manutenção daquilo a que chamamos Estado social?
O problema tem de ser equacionado de outra forma: onde é que o Estado vai buscar receitas para resolver as despesas sociais sem deixar de empurrar com a barriga para a frente? Foi por causa dessa falta de lucidez que chegámos ao estado em que estamos. O grande problema da modernidade é como conciliar de uma maneira ajustada a satisfação das necessidades sociais com os gastos daí decorrentes. Mas para isso são precisos políticos com grande espessura, com grande consistência. São precisos estadistas, que tenham a verdadeira noção do que é a política como arte. E isso também é o que nos falta.
Os políticos que estão no activo não têm estado à altura da crise e da situação que o país vive?
Há um decréscimo da qualidade dos políticos.
Tem havido bastante contestação ao governo. O governo tem cometido erros que justificam este desagrado ou seria inevitável o descontentamento das pessoas?
O grande risco é a perda da relação de confiança dos portugueses com o governo. Esse é que é o problema, porque quando se dá uma ruptura depois restaurar esse elo de ligação é muito difícil. É extremamente difícil governar sem essa relação de coesão nacional entre o governo e as pessoas.
Essa relação de confiança ainda existe?
Está muito posta em causa, como é visível e como é notório. As pessoas estão cada vez mais angustiadas e desconfiadas, no sentido em que perderam a confiança. O governo precisa urgentemente de resolver este problema. Tem de explicar o que está a fazer e criar mecanismos de comunicação para restaurar a esperança e a confiança das pessoas.
Tem havido insensibilidade?
Tem havido inabilidade governamental. Isso faz parte da arte da política.
Considera importante retomar o consenso com o PS?
Essa reconciliação tem de ser feita a bem do interesse nacional. Tem de haver o acordo do PS e alargar a base da governação. Quanto a mim é absolutamente essencial a participação do PS.
O_PS parece não estar disponível para aceitar o desafio do governo para refundar o Memorando.
As coisas mudam e espero que estes problemas de ordem táctica possam ser ultrapassados em nome de uma estratégia comum que representa a salvação do país.
Este Orçamento corre o risco de violar a Constituição?
Há esse risco. É por isso que alguns defendem uma apreciação preventiva da constitucionalidade.
É dessa opinião?
O que eu digo é que há esse risco. O Presidente da República saberá melhor que ninguém se vai usar a fiscalização preventiva. Se algumas medidas forem aprovadas corre-se o risco de serem declaradas inconstitucionais pelo Constitucional. E isso agravaria a situação. Às vezes mais vale prevenir que remediar.
O Presidente da República deveria ter esse cuidado.
São regras de prudência, mas tudo isso depende do juízo que o Presidente da República fará.
Cavaco Silva tem sido o Presidente de que o país precisa nesta crise?
É uma actuação muito ao estilo dele. Tem exercido a presidência com uma grande prudência. Que não se esperem dele grandes rasgos ou grandes solavancos.
Era preciso um Presidente com mais rasgo?
Há quem diga isso, mas os rasgos, por vezes, comportam ainda mais riscos.
SE NINGUÉM ACREDITA NESTE ORÇAMENTO PARA QUÊ APROVÁ-LO?
O Orçamento do Estado para 2013 é hoje votado na generalidade. É um Orçamento realista?
É um Orçamento muito difícil e sobretudo muito difícil de vir a ser cumprido. É de tal maneira pesado e restritivo que levanta seríssimas dificuldades de execução.
Um dos aspectos mais contestados é um enorme aumento de impostos, como disse o ministro das Finanças.
A começar por aí. É aterrador. Ainda vem impor mais sacrifícios e mais restrições aos portugueses, sobretudo à classe média. Esta destruição da classe média portuguesa é para mim o mais terrível. Não há nenhum país que possa sobreviver com estes ataques à sua classe média e, além do mais, aquilo que me parece é que muitos portugueses se verão ainda mais afogados. E não vejo como é que a economia possa reacender ou reactivar--se dentro destas circunstâncias. Eu infelizmente tenho de dizer que estou pessimista. Gostava de ter esperança, como alguns têm, mas a esperança tem de ter uma base de racionalidade, e é isso que eu não vejo nesta governação.
Esta governação está a distanciar-se da social-democracia?
Eu sou um homem de convicções social--democratas e o coração da social-democracia é o Estado social. E eu vejo que esse Estado social está cada vez mais apertado, mais limitado, mais asfixiado. Sei que os tempos são outros e que o Estado-providência, que foi a fonte de bem-estar da Europa durante muitas décadas, entrou num estado de carência. E portanto a social-democracia teve de se adaptar às circunstâncias.
E como é que se resolve esse dilema ou essa contradição?
Há uma coisa que eu sei. Não é com visões liberais ou neoliberais.
Este governo tem essa visão neoliberal?
Está bastante inclinado para soluções que me parecem neoliberais.
O governo já anunciou a necessidade de cortar 4 mil milhões de euros do lado da despesa. É compatível um corte desta dimensão com a manutenção daquilo a que chamamos Estado social?
O problema tem de ser equacionado de outra forma: onde é que o Estado vai buscar receitas para resolver as despesas sociais sem deixar de empurrar com a barriga para a frente? Foi por causa dessa falta de lucidez que chegámos ao estado em que estamos. O grande problema da modernidade é como conciliar de uma maneira ajustada a satisfação das necessidades sociais com os gastos daí decorrentes. Mas para isso são precisos políticos com grande espessura, com grande consistência. São precisos estadistas, que tenham a verdadeira noção do que é a política como arte. E isso também é o que nos falta.
Os políticos que estão no activo não têm estado à altura da crise e da situação que o país vive?
Há um decréscimo da qualidade dos políticos.
Tem havido bastante contestação ao governo. O governo tem cometido erros que justificam este desagrado ou seria inevitável o descontentamento das pessoas?
O grande risco é a perda da relação de confiança dos portugueses com o governo. Esse é que é o problema, porque quando se dá uma ruptura depois restaurar esse elo de ligação é muito difícil. É extremamente difícil governar sem essa relação de coesão nacional entre o governo e as pessoas.
Essa relação de confiança ainda existe?
Está muito posta em causa, como é visível e como é notório. As pessoas estão cada vez mais angustiadas e desconfiadas, no sentido em que perderam a confiança. O governo precisa urgentemente de resolver este problema. Tem de explicar o que está a fazer e criar mecanismos de comunicação para restaurar a esperança e a confiança das pessoas.
Tem havido insensibilidade?
Tem havido inabilidade governamental. Isso faz parte da arte da política.
Considera importante retomar o consenso com o PS?
Essa reconciliação tem de ser feita a bem do interesse nacional. Tem de haver o acordo do PS e alargar a base da governação. Quanto a mim é absolutamente essencial a participação do PS.
O_PS parece não estar disponível para aceitar o desafio do governo para refundar o Memorando.
As coisas mudam e espero que estes problemas de ordem táctica possam ser ultrapassados em nome de uma estratégia comum que representa a salvação do país.
Este Orçamento corre o risco de violar a Constituição?
Há esse risco. É por isso que alguns defendem uma apreciação preventiva da constitucionalidade.
É dessa opinião?
O que eu digo é que há esse risco. O Presidente da República saberá melhor que ninguém se vai usar a fiscalização preventiva. Se algumas medidas forem aprovadas corre-se o risco de serem declaradas inconstitucionais pelo Constitucional. E isso agravaria a situação. Às vezes mais vale prevenir que remediar.
O Presidente da República deveria ter esse cuidado.
São regras de prudência, mas tudo isso depende do juízo que o Presidente da República fará.
Cavaco Silva tem sido o Presidente de que o país precisa nesta crise?
É uma actuação muito ao estilo dele. Tem exercido a presidência com uma grande prudência. Que não se esperem dele grandes rasgos ou grandes solavancos.
Era preciso um Presidente com mais rasgo?
Há quem diga isso, mas os rasgos, por vezes, comportam ainda mais riscos.
SE NINGUÉM ACREDITA NESTE ORÇAMENTO PARA QUÊ APROVÁ-LO?
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