quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Risco de incumprimento aproxima-se dos máximos de julho
A probabilidade de uma bancarrota fechou em mais de 36%, um nível que se aproxima dos verificados no auge da crise governamental.
Jorge Nascimento Rodrigues
Última atualização há 10 minutos
Os sinais provenientes do mercado secundário da dívida soberana e do mercado dos seguros contra a probabilidade de uma bancarrota continuam a ser negativos no caso de Portugal.
O risco de incumprimento num horizonte de cinco anos fechou hoje em 36,09% e o preço dos seguros contra esse incumprimento, designados por credit default swaps, subiu para mais de 520 pontos base, segundo dados da S&P Capital IQ. É um nível de risco próximo dos verificados em vários dias durante a crise governamental de julho. O máximo, então, atingido, a 12 de julho, foi de 38,23%. Um valor de fecho de 36% já não se verificava desde 18 de julho.
Entre os "periféricos", apenas Portugal, Itália e Chipre registaram hoje subidas no risco de incumprimento em relação aos valores de fecho de ontem. O risco subiu de 35,39% para 36,09% no caso português e de 18,7% para 19,37% no caso italiano. A subida de risco no caso de Chipre foi muito ligeira. Pelo contrário, a probabilidade de incumprimento desceu para a Grécia, Irlanda e Espanha.
As yields das obrigações do Tesouro português a 10 anos fecharam no mercado secundário em alta ligeira, registando 6,77%, contra 6,76% no fecho de ontem, segundo dados da investing.com. Em final de agosto, fecharam em 6,74%. São níveis distantes dos registados no mercado secundário aquando da operação de regresso ao mercado obrigacionista em 7 de maio (5,52%). Mesmo em relação aos valores verificados no final de junho (6,4%), antes de rebentar a crise governamental, a situação é hoje pior, apesar daquela crise ter sido debelada no final de julho.
As yields subiram, também, para as obrigações gregas, espanholas e italianas naquele prazo; mas desceram para o caso das obrigações irlandesas.

FATORES COM IMPACTO NEGATIVO

Os fatores externos que têm influenciado negativamente o mercado da dívida dos países periféricos da zona euro provêm dos Estados Unidos - por um lado, o anuncio em maio de uma redução e posterior descontinuação da política monetária de "estímulos" da Reserva Federal (Fed) e, mais recentemente, a decisão de uma intervenção militar norte-americana contra a Síria, que conta com o apoio da França, mas que arrisca recriar um clima de "guerra fria" com a Rússia. Clima que poderá transparecer já na reunião do G20 que se inicia amanhã em São Petersburgo.
O "Livro Bege" publicado hoje pela Fed refere que a maior economia do mundo continuou numa situação de crescimento "modesto a moderado" em julho e agosto, o que leva alguns analistas a considerar que o banco central norte-americano poderá já na próxima reunião de 17 e 18 de setembro concretizar o plano de redução dos "estímulos" monetários anunciado em maio por Ben Bernanke, o seu presidente. O relatório sobre o Emprego que será publicado na sexta-feira poderá dar mais indicações sobre a melhoria da economia dos EUA. Uma redução dos "estímulos" acelerará a fuga de fundos de investimento das economias emergentes e dos países periféricos da zona euro, e o regresso desses fluxos de capital a aplicações em títulos de "refúgio", como os US Treasuries e as Bunds alemãs, cujas yields têm estado em trajetória de subida.

Calendário "quente" em Washington


No entanto, o calendário norte-americano em setembro é muito "quente", indo para além da decisão de redução ou não dos "estímulos". Conta, na agenda, com a nomeação do sucessor de Ben Bernanke à frente da Fed a partir de 31 de janeiro e  a discussão do orçamento e do teto da dívida federal.
Esta agenda recebeu, recentemente, um novo "inquilino", desde 21 de agosto - data do alegado ataque químico na Síria -, reanimando o factor geopolítico que já se fazia sentir desde 3 de julho, com o golpe militar no Egito.
Hoje, o Painel do Comité de Relações Exteriores do Senado norte-americano aprovou por 10 contra 7 votos a intenção da Administração Obama em realizar uma ação militar contra a Síria. No entanto, as duas câmaras do Congresso norte-americano serão chamadas a pronunciar-se na próxima semana. O Congresso reabre a 9 de setembro. Os dois partidos representados no Congresso estão divididos internamente sobre esta ação militar que poderá regionalizar e internacionalizar a atual guerra civil. A decisão do presidente Obama conseguiu apoios de peso no lado Republicano, como John Boehner, o speaker da Câmara de Representantes, e o senador John McCain, candidato presidencial em 2008, mas o jornal The Hill, que acompanha os assuntos do Congresso, vê difícil a vitória na Câmara de Representantes na próxima semana.

Incerteza sobre Itália e resgatados


Internamente à zona euro, a incerteza neste início de setembro advém de um nível de risco político elevado em Itália associado ao desenrolar do processo judicial contra o ex-primeiro-ministro e líder do partido Povo da Liberdade - "Se Berlusconi cair, cai, também, o governo" - e das dúvidas crescentes sobre a capacidade de financiamento da dívida a partir do próximo ano e da sua sustentabilidade no médio prazo nos casos da Grécia, Irlanda e Portugal, um tema que foi levantado pela revista The Economist no princípio de agosto.
Os resultados positivos da economia da zona euro no segundo trimestre - ontem reafirmados pela OCDE e hoje confirmados pelo Eurostat - não têm conseguido sobrepor-se aos fatores negativos referidos. Os dados de agosto dos índices PMI (Purchasing Managers Index) na área industrial para as principais economias da zona euro, publicados mensalmente pela Markit, apontam, também, para uma expansão da atividade, com os índices mais elevados em 25 meses para a Alemanha, em 27 meses para Itália, em 29 meses para Espanha e em 27 meses para a Holanda.
Os investidores olharão com atenção para as palavras de Mario Draghi, o presidente do Banco Central Europeu, que amanhã reúne o seu conselho de governadores.
 
E VEM O SENHOR BARROSO DIZER QUE ESTÁ TUDO BEM.


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