terça-feira, 21 de janeiro de 2014


Seguradora destaca impacto negativo da crise política na credibilidade do país, mas mostra-se mais optimista do que há uns meses.
A Coface acredita que Portugal vai sair da crise e deixar o programa de ajustamento na data prevista, mas frisa que de forma "mais difícil do que o esperado".
Na análise ao risco do país em 2014, a seguradora nota que as emissões de longo prazo do Tesouro no ano passado "removeram a ameaça de uma reestruturação da dívida pública", mas que "a fraqueza do Governo" fez renascer a desconfiança dos mercados e levou à escalada das ‘yields' no Verão. "E apesar de [as ‘yields'] terem estabilizado desde então, tal pode ter comprometido a saída da crise, apesar de ser suposto o país estar livre da ‘troika' em meados de 2014", acrescenta.
A equipa de economistas da Coface sublinha os riscos até Maio, que passam pela tensão política e social. "A austeridade tem cada vez menos aceitação popular e a governação de centro-direita, que quase se desintegrou em Junho, continua fraca", avança o relatório anual da organização sobre o risco dos países, frisando que "tensões internas crescentes podem eventualmente levar a eleições antecipadas".
Ainda assim, a seguradora acredita que Portugal vai sair da recessão este ano, crescendo 0,5% - ligeiramente mais pessimista do que o Governo, que no Orçamento do Estado aponta para 0,8%. "As exportações, que estão a beneficiar de ganhos de competitividade ligados à descida dos custos de trabalho e a uma procura mais robusta da Europa, deverão continuar a ser a componente mais dinâmica do PIB em 2014", escrevem os economistas da Coface.
No entanto, tal como sublinha o director de risco do país, Julien Marcilly, a força da recuperação vai "depender muito do comportamento do consumo". Marcilly frisa, em entrevista conjunta ao Diário Económico, ao Jornal de Negócios e ao Expresso, que mesmo o dinamismo do sector externo "está a ser arrastado" pela fraca procura interna.
A Coface aponta ainda como risco a elevada dívida do país. Quer a pública, que vai chegar aos 130% do PIB este ano, quer a privada, com o rácio de endividamento das famílias e empresas a chegar aos 91% e 166%, respectivamente. "O processo de desalavancagem vai, por isso, demorar muito tempo", diz a segurado, notando que "as falências continuam perigosamente a aumentar", sobretudo no caso das PME.
A organização, que mantém a notação de Portugal em ‘B', afirma que o elevado endividamento é, aliás, um dos grandes entraves à melhoria das perspectivas do país.
"O risco do país não está a melhorar, está a estabilizar: a recessão está a acabar, a segunda boa notícia é o regresso da confiança dos mercados, sobretudo na periferia, e a terceira é a dinâmica das exportações", diz Yves Zlotowski, economista-chefe da Coface. "Mas em relação a melhorar o risco... No risco empresarial ainda não estão lá. Têm empresas altamente endividadas, o que torna muito difícil o investimento", explica.
Já no caso da dívida pública, Zlotowski reconhece que o problema é extensível ao resto da zona euro e que "o cenário é muito mau". "A dívida publica, que não deverá estabilizar antes de 2018, será o grande impedimento à clarificação do ambiente na zona euro", conclui.

*o jornalista viajou a convite da Coface

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