segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Por Ana Sá Lopes
publicado em 20 Jan 2014 - 05:00

Caminho aberto para Belém à esquerda


António Costa tem o caminho aberto para Belém enfeitado com flores
O anúncio da desistência de Marcelo Rebelo de Sousa de se candidatar a Presidente da República - que já tinha pré-anunciado várias vezes e que não era segredo para ninguém nem dentro nem fora do PSD - é a consequência inevitável de Pedro Passos Coelho, através de uma frase atabalhoada inscrita na sua moção ao congresso, ter resolvido excluir Marcelo.
É verdade que Marcelo Rebelo de Sousa já disse "nem que Cristo desça à terra" no ano glorioso de 1996. As circunstâncias podem mudar - e até Passos pode ser afastado do PSD mais depressa do que se pode julgar e todo o processo voltar à estaca zero. Mas não deixa de ser incompreensível que Passos Coelho tenha decidido entregar o Palácio de Belém à esquerda. Se a sua aposta é repescar Durão Barroso para candidato do PSD, bem pode tirar o cavalinho da chuva - a "fuga" de Durão para a Comissão Europeia e a subsequente incapacidade de lidar com as crises dos países periféricos como a daquele em que nasceu (e que na altura a propaganda selvagem e irracional se encarregou de transformar em "oportunidade única para o país") tornaram-no incapaz de vencer qualquer eleição nos próximos tempos. A memória é curta em política, mas há questões "fracturantes" e o ano de 2004 é inesquecível.
Passos decidiu, assim, abrir o caminho à esquerda para uma vitória nas presidenciais. Tendo em conta o que tem sido a história recente em Portugal nas eleições para Belém, é pura verdade que esta seria a vez da esquerda ganhar. Mas desperdiçar desta maneira o candidato da direita mais bem colocado nas sondagens - à direita, lidera o barómetro i/Pitagórica há mais de um ano consecutivo - é um erro de alucinado. Marcelo foi ultrapassado por António Costa no posto de "melhor candidato", embora tenha aí estado nos primeiros meses de existência do barómetro. Agora, sim, para António Costa há um "caminho aberto" - título do último livro de intervenções políticas do presidente da câmara de Lisboa. Com a liderança do PS a ficar mais longe, tendo em conta que as coisas são como são, depois da desistência de ontem de Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa tem o caminho aberto para Belém enfeitado com flores, ameno, aprazível e provavelmente invencível.

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