domingo, 26 de janeiro de 2014

Quando o presidente do Conselho de Jurisdição anunciou a reeleição de Pedro Passos Coelho, contou 15.524 votos a favor do presidente, num universo de 17.662 participantes nestas últimas directas.
Foram menos de metade dos que elevaram, em 2010, Pedro Passos Coelho a líder do PSD. Há quatro anos, o agora primeiro-ministro derrotara Paulo Rangel e Aguiar-Branco somando 31.671 votos nessas directas internas.

De 2010 para cá, Passos foi assistindo a uma tendência decrescente no número de militantes que votaram para a sua recondução. Em Março de 2012 — também sem oposição como neste sábado —, o líder social-democrata fora reeleito com 17.499 votos, 95% do total escrutinado.

Essa é a leitura que Carlos Jalali, director do Mestrado em Ciência Política da Universidade de Aveiro, destaca das últimas eleições internas do principal partido que suporta o actual Governo.

“Estes resultados mostram que Passos Coelho não é unânime. O apoio a Passos Coelho diminuiu. Não é uma mudança radical, mas a verdade é que o resultado é inferior a 2012. Mostra que aquele sentimento mais crítico em relação ao líder não se limita aos 15 barões ou personagens mais mediáticas que têm vindo a criticá-lo no espaço público”, analisa o politólogo.

O aparente desinteresse dos militantes nestas directas revelou-se também na discrepância entre a quantidade que votou em 2010 e os que agora o fizeram. Neste sábado houve 17.662 participantes nas directas. Há quatro anos, esse número atingiu um número recorde de 51.748 votantes. Jalali justifica-o com a disputa tripartida pelo poder entre Passos, Rangel e Aguiar-Branco.

“As eleições que são competitivas tendem a mobilizar mais os eleitores”, afirma. O facto de o líder não ter sido desafiado por uma candidatura concorrente levou a que os seus “apoiantes potenciais tenham ficado em casa, uma vez que não sentiam o risco de perder”.

Mesmo assim, não é de esperar que a liderança venha a ser desafiada nos próximos tempos. A percentagem de 88% com que o social-democrata foi reeleito não deixa margem para dúvidas.

“Passos Coelho não irá mudar o seu comportamento político. Para isso, seria necessária uma derrota estrondosa, por exemplo, nas europeias”, vaticina Jalali.

O discurso de vitória do também primeiro-ministro revelou isso mesmo na madrugada deste domingo. Assumiu um "redobrado ânimo” para enfrentar o novo “ciclo político”, mas insistiu que "os níveis de riqueza ilusória" não regressariam ao país.

"Sabemos que não teremos um milagre económico em Maio deste ano. Que quando fecharmos o período de assistência económica e financeira ainda teremos desafios muito importantes para enfrentar, seja ao nível do desemprego, seja ao nível da coesão social, coesão territorial e recuperação económica", afirmou, dizendo que o objectivo é "fechar um tempo de crise e iniciar um tempo de recuperação".

Mas a pairar ficavam os 1492 votos em branco e 646 nulos das directas. Porque, como avisou Jalali, “os mais críticos olharão para esses números com a ideia de que há eco” nas suas preocupações.

JÁ NEM OS MILITANTES ACREDITAM NELE

 

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