sábado, 15 de fevereiro de 2014

Enquanto se prolonga o impasse na construção da ligação ferroviária para mercadorias projectada para ligar o Porto de Sines ao resto da Europa, prossegue a contagem decrescente para o fim das obras de alargamento do Canal do Panamá, que terminam já em 2015.
Por este andar, a economia portuguesa e o Porto de Sines correm o risco de ficar a ver navios.

Como todos reconhecem, o alargamento do Canal do Panamá constitui uma oportunidade extraordinária para a nossa economia, sendo que o Porto de Sines reúne condições excelentes para tirar partido da sua localização privilegiada e atrair o tráfego dos grandes navios porta-contentores. Para isso, todavia, Sines precisa de ver assegurada uma ligação ferroviária que garanta o acesso expedito das suas mercadorias a Madrid e ao resto da Europa. Isto significa que é imperioso - como reconhece o próprio grupo de trabalho governamental nomeado para estudar os investimentos prioritários - relançar o projecto de construção do troço ferroviário Évora-Caia-Badajoz, que o actual Governo erradamente mandou suspender já lá vão mais de dois anos. Só que o tempo passa e, apesar de muita conversa, nada acontece.

Em Outubro do ano passado, recorde-se, o primeiro-ministro, de visita ao Panamá, não tinha sequer um calendário para anunciar: "Não tenho nesta altura ainda uma data fixa para a poder anunciar. O que posso dizer é que estamos a fazer tudo para que não haja um grande desfasamento (sic) entre a oportunidade que se abre aqui (com o alargamento do Canal do Panamá) até meio, fim de 2015, e as obras do lado de Sines, que permitirão levar a ligação (ferroviária) de Sines até à fronteira espanhola" (Diário Económico, 18-10-13).

Sucede que esta semana, finalmente, tivemos notícias sobre a verdadeira dimensão do "desfasamento" admitido pelo primeiro-ministro. Em declarações ao jornal Público, o presidente da REFER, Rui Loureiro, revelou que apenas espera "poder começar" as obras em 2017, pelo que a ligação ferroviária só estará pronta, na melhor das hipóteses, lá para 2019. Ou seja: com os seus erros e adiamentos, o Governo vai falhar por quatro anos (!) a conclusão de uma infra-estrutura de evidente interesse nacional para tirar pleno partido do alargamento do Canal do Panamá. Entretanto, a economia espera. E o País desespera. 
Nota do autor: Em resposta ao meu artigo da semana passada, Francisco Nogueira Leite, Presidente da Parvalorem (empresa que tinha à sua guarda a colecção Miró), por entre tiradas políticas reveladoras de um certo estilo, veio desmentir a referência que o dava como "ex-administrador da Tecnoforma", embora reconhecendo que colaborou no "apoio à gestão" daquela empresa. Devo esclarecer que o lapso resulta de duas notícias do jornal Público, que não vi desmentidas, em que expressamente se afirma que Francisco Nogueira Leite "partilhou com Passos Coelho a administração da sociedade" (cfr. Público, 4-12-12) e "foi administrador da Tecnoforma, entre 2005 e 2007, juntamente com Pedro Passos Coelho" (cfr. Público, 13-12-13). Pelos vistos, tais notícias continham informação errada. Sendo assim, peço desculpa ao visado pelo lapso involuntário. Nestes termos, onde no referido artigo se lê "ex-administrador da Tecnoforma" deve ler-se "ex-colaborador no apoio à gestão da Tecnoforma". O argumento, porém, mantém-se. E o argumento era que o Relatório da Parvalorem (que expressamente situa o "início" do processo de alienação da colecção Miró já depois do final de 2012) deve considerar-se insuspeito por ter sido assinado por alguém tão próximo do actual primeiro-ministro que até esteve, como ele, ligado à empresa Tecnoforma. Que tal ligação tenha ocorrido não na função de "administrador" mas na de colaborador no "apoio à gestão" em nada invalida o argumento.

Sem comentários: