sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Para combater a recessão e o desemprego, a Grécia acordou com Bruxelas investimentos de 7,6 mil milhões de euros em estradas. Portugal decide até Abril quais os prioritários, alavancados por fundos comunitários.
Obras públicas e estímulo económico tornaram-se duas expressões malditas quando a Zona Euro escolheu a austeridade como caminho para sair daquela que seria a maior crise da sua história.Agora, a Europa dá sinais de que o investimento em infra-estruturas é visto como a solução para resolver a falta de crescimento e o desemprego, sobretudo nos países da periferia.
No espaço de um mês, a Comissão Europeia disponibilizou-se para financiar quase dois terços do custo de uma mão cheia de projectos na Grécia e em Portugal, recuperando muitas das obras públicas abandonadas quando a crise do euro e a austeridade chegaram.
Após cinco anos, cinco resgates e um desemprego histórico - 12% dos europeus não têm trabalho -, a Grécia é o caso mais avançado. Embora Atenas mantenha metas de redução da despesa pública ao abrigo do programa da troika, fechou com Bruxelas um acordo para a construção e concessão de quatro novas auto-estradas no país, um investimento de 7,6 mil milhões de euros que irá criar 20 mil empregos. O impacto no crescimento do PIB é de 1,5 pontos percentuais até 2015.
A Comissão Europeia, um dos três braços da troika na assistência financeira ao país, referiu que este projecto - o maior investimento em infra-estruturas dos últimos cinco anos - é “prioritário” para a criação de emprego e um “ponto central” para a retoma da economia, lê-se no comunicado do acordo. Só na construção destas quatro vias, os fundos comunitários irão contribuir com 2,97 dos 4,1 mil milhões de euros.
Em Portugal, foi apresentada esta semana uma proposta para 30 projectos prioritários em infra-estruturas nos quais o país deve investir até 2020. O plano, encomendado pelo Governo, dá prioridade aos portos e aos caminhos-de-ferro, em detrimento das estradas e dos aeroportos, privilegiando ainda as mercadorias face aos passageiros.
Mudança de sentimento
A ligação ferroviária de mercadorias entre Sines e Espanha, a expansão do terminal marítimo de Sines ou a construção de um novo porto de águas profundas em Lisboa são alguns dos investimentos considerados estratégicos. Estes projectos têm um orçamento de cinco mil milhões de euros e contarão com um financiamento de Bruxelas até 60%, oriundo do novo quadro comunitário de apoio entre 2014 e 2020, que entra em vigor no próximo ano.
A abertura e disponibilidade da Comissão Europeia para apoiar esta nova vaga de obras públicas, anteriormente ausente de qualquer discurso ou powerpoint de Bruxelas ou do FMI, mostra uma mudança de sentimento face à forma de resolver os problemas das economias da periferia: o investimento em infra-estruturas é agora visto como um estímulo económico que poderá ter um papel decisivo na retoma.
Na Grécia isso é claro e já admitido pelo Governo e pela troika. As projecções indicam que as novas estradas vão contribuir para metade do crescimento esperado para este ano (0,6%) e 2015 (2,9%). Desde 2010, a economia grega contraiu 22%, o investimento recuou 60% e um terço dos gregos ficou sem emprego. Empregar 20 mil pessoas será determinante para baixar a mais alta taxa de desemprego na Europa (27%). O plano rodoviário grego representa um estímulo à economia de 2,7% do PIB em dois anos, três vezes mais do que os EUA usaram durante a crise de 2008 a 2011 (1% do PIB).

OS NEOLIBERAIS QUANDO PRECISAM REGRESSAM A KEYNES COMO EM 2008/2009

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