quinta-feira, 24 de abril de 2014

VIRIATO SOROMENHO-MARQUES

A coragem da prudência

por VIRIATO SOROMENHO-MARQUESHoje
O jogo de sombras em torno da saída de Portugal do "programa de resgate" começa a ser insuportável. Não é aceitável que o Governo não tenha sobre isso uma posição clara. Só quem sabe o caminho para onde vai pode convidar os outros, neste caso a oposição, para seguirem na mesma direção. Duas razões justificam a preferência por um programa cautelar, pois a atual tendência para a baixa das taxas de juro da dívida pública, em toda a Europa, é um fenómeno meramente conjuntural. Em primeiro lugar, essa tendência não deriva do alegado "sucesso" da austeridade. Prende-se, antes, com a saída de capitais dos mercados emergentes, e também com a política monetária expansiva do BCE. Na verdade, as três principais agências de notação financeira continuam a considerar Lisboa e Atenas abaixo da linha de água, o que não tem impedido os juros dos dois países de baixarem dramaticamente. Se esta tendência, que não controlamos, se inverter (e são vários os fatores nesse sentido, entre eles a eventual ilegalidade do mecanismo OMT), o País ficará de novo encurralado. Em segundo lugar, um programa cautelar poderia garantir, durante dois anos, um cenário de contingência, a ser usado apenas em caso de necessidade. E teria a enorme vantagem de medir o grau efetivo de solidariedade dos outros Estados membros. Os portugueses ficariam a saber quem na Europa brinca à solidariedade e quem a pratica de facto. Mas, para tal, será preciso que o Governo português coloque, por uma vez, a sua espinha em posição vertical e fale com clareza para que a Europa seja capaz de ouvir

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