sábado, 21 de junho de 2014

Chega.

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Não existe política digna desse nome que não esteja ao serviço da cidade. A polis tem de ser sempre o chão que faz andar quem quer servir o bem-comum. Não há nada de artístico em ver a política como uma forma de alcançar e de manter o poder. Se Maquiavel definiu assim a política, não consta que tenha atribuído à definição um juízo moral positivo. Olhou e definiu.
Talvez hoje muitos olhem para o que se passa na nossa vida política e sintam a pulsão maquiavélica prevalecer sobre o que os tempos de instabilidade interna e externa, a todos os níveis, exigem: a pulsão política posta no bem-estar e na prosperidade.
A direita crente no desenvolvimento social e institucionalista foi substituída pela deliberada intenção de empobrecer o país, causar clivagens entre esferas da comunidade, dormir bem numa pátria onde um milhão de homens e mulheres são pobres, atacar a instituição que guarda lei das leis, negociar com os credores do lado de lá da mesa, atacar sempre os mesmos, destruir o Estado social, apagar os valores da confiança e da solidariedade.
Esta direita que se abandonou, abandonando o país, dorme bem sabendo que se um milhão de pessoas não tem acesso a bens básicos, se o valor "trabalho" desapareceu, então, como bem disse António Costa, este país não respeita a base da República, que dá pelo nome de dignidade da pessoa humana.
Esta direita dorme bem porque da antiga não resta nada. Pior: resta a direita que aprendi ser a dos interesses e não a dos valores; a direita das agendas pessoais; a direita que permite assistir ao espetáculo de ver entrar no Governo académicos respeitados como Poiares Maduro, os quais, numa metamorfose imoral, negam tudo o que foram, patrocinando a festa da intriga institucional.
Se a direita dorme bem, o povo dorme mal. E resta uma palavra: chega.
Chega de ver celebrado um país resgatado condenado a ser uma periferia pobre, sem jovens, sem trabalho, com idosos desprezados, com pobreza pobre de mais para ser escondida, sem emprego, sem direitos, sem um plano estratégico vitorioso a dez anos, a tal consistência de que fala António Costa, a recusa de esconder na Europa a nossa voz, fazendo-a ouvir, como usa acontecer com outras vozes.
Chega.
Hoje já ninguém pode perguntar "qual é a alternativa?".
A alternativa é clara. Nas europeias, os portugueses expulsaram do seu horizonte a direita e não confiaram suficientemente no PS. A alternativa é o PS perceber isso, como o fez, com coragem, António Costa. A alternativa é perceber que aceitar resultados fracos é aceitar que somos alternativas fracas. A alternativa é ambicionar muito mais do que a mudança de titulares nas cadeiras do poder. A alternativa tem sido veiculada pela voz de António Costa, mas é acompanhada e tida por evidente por uma massa incalculável de militantes, simpatizantes e outros. Essa alternativa é urgente. Também por isso, todos os notáveis do PS disseram-no numa declaração.

Chega. Não há nada de artístico em ver a política como uma forma de alcançar e de manter o poder.
O PS não pode ser a outra face desta direita.


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