terça-feira, 30 de setembro de 2014


FMI: Chegou a hora do investimento público? Sim, mas não a todo o lado

Relatório do FMI aconselha os Governos dos países desenvolvidos a aumentar o investimento público para dar um empurrão ao crescimento e ao emprego. Mas só deve fazê-lo quem precisa e quem pode. Alemanha e EUA? Sim. Portugal? Talvez não.
Economia estagnada, desemprego elevado e taxas de juro de historicamente baixas oferecem a contexto ideal para os Governos tentarem uma nova terapia: um "choque" de investimento público, designadamente em infra-estruturas no domínio dos transportes e da energia. Resultado expectável? O crescimento económico, a curto e a longo prazo, e o rácio da dívida pública tenderão a melhorar.

Mas, antes de mais, é preciso fazer uma avaliação rigorosa das necessidades de investimento e escolher criteriosamente os projectos, de modo a garantir que geram mais crescimento e aumentam o potencial da economia e oferecem, ao mesmo tempo, a rentabilidade adequada para não sobrecarregar indevidamente as gerações futuras. 

Por outro lado, os Governos mais endividados podem simplesmente não ter a escolha de optar pela terapia de carregar no acelerador do investimento, sobretudo se tiverem de o fazer com recurso a nova dívida. Porquê? Porque não podem ficar à mercê do risco, provável, de uma reviravolta nas condições de financiamento oferecidas pelos mercados.

Esta é, em suma, a opinião do Fundo Monetário Internacional (FMI) que acaba de publicar um relatório no qual avalia os prováveis méritos de um empurrão no investimento. O relatório surge na sequência das conclusões do encontro dos ministros das Finanças do Grupo das Vinte maiores economias (G20) que, reunidos em Sidney em Fevereiro, concluíram que mais investimento "é crucial para a transição da economia global para um crescimento mais robusto".

"Este é o momento certo para um empurrão em infra-estruturas nos países onde as condições forem adequadas", conclui o FMI. "Os custos de empréstimos são baixos e a procura está fraca nas economias avançadas", pelo que um choque de investimento público teria a vantagem de "apoiar a procura no curto prazo e de ajudar a aumentar o produto potencial a longo prazo".

Se as necessidades de investimento forem "claramente identificadas" e os projectos geridos de forma "eficiente" é até provável que o recurso a mais endividamento "não aumente o rácio da dívida pública em relação ao PIB", acrescenta.

No caso das economias avançadas, o FMI estima que, em média, aumentar o investimento no equivalente a 1% do PIB pode aumentar o próprio PIB em 0,4% nesse ano e em 1,5% nos quatros anos seguintes.

Ainda que não faça recomendações individualizadas, o FMI refere que em países como os Estados Unidos e a Alemanha o grau de satisfação com, por exemplo, a rede de infrastruturas e, em particular, com a qualidade das estradas tem vindo a cair, o que sugere a necessidade de novos investimentos para a sua modernização, tendo ambos os países espaço para o fazer.

Contudo, "muitas economias avançadas têm pouco espaço orçamental dado que ainda têm elevados rácios da dívida em relação ao PIB e enfrentam a necessidade de mais consolidação". Para estes países, onde facilmente se pode encaixar Portugal, é preciso ainda ponderar o risco de o custo do financiamento poder aumentar com a esperada normalização da política monetária nalguns bancos centrais-chave ".

Ou seja, aumentar o investimento público na actual conjuntura é uma boa opção, e é inclusive uma boa opção fazê-lo através da contracção de mais dívida para aproveitar as baixas taxas de juro, em vez de tentar acomodar esse maior investimento com mais impostos e/ou cortes de outras despesas públicas.

Mas esta "não deve ser interpretada como uma recomendação geral para todas as economias avançadas", frisa o Fundo. Nos países com dívidas públicas já elevadas - que estão, por tal, mais expostos aos riscos de uma subida súbita dos juros - e onde as taxas de retorno dos investimento em infra-estruturas são mais incertas, mais investimento público financiado por nova dívida "pode aumentar os custos de financiamento soberano e aumentar ainda mais a pressão sobre a dívida".
KEYNES ESTÁ DE VOLTA. NÃO HÁ ALTERNATIVA.
GRANDES CABEÇAS ESTAS. AO FIM DE 3 ANOS DESCOBREM QUE ERRARAM.




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