sexta-feira, 26 de outubro de 2007

DO BLOG DA DIRECÇÃO DO EXPRESSO

Estado e crise dos partidos
Que tem em comum o modo como decorreu a luta pela liderança do PSD com as acusações ao Governo por nomear apenas gente da sua cor política?
Por que razão alguns dos principais agentes do Estado, como, por exemplo, a célebre directora regional de Educação do Norte ou elementos das Comissões de Coordenação Regional, são ligados ao partido que está no poder? E por que se passa o mesmo com muitos administradores da Caixa Geral de Depósitos, ou de outras empresas públicas ou com forte participação do Estado?

E por que razão quase ninguém conhece, na vida privada, longe do Estado, pessoas que se mobilizam por um partido ou nele militam - sobretudo nos dois grandes partidos do poder, PS e PSD? E o que leva a maioria da juventude a não se interessar minimamente pela política? E qual o motivo das juventudes partidárias terem os mesmos tiques que os partidos que as inspiram?

A resposta a todas estas perguntas quase toda a gente a conhece. Na verdade, os partidos não mobilizam porque, no geral, o que mais neles conta não são nem as ideias, nem as soluções, mas sim a distribuição de lugares no aparelho de Estado e nas empresas públicas. O seu poder de atracção está ligado ou à ocupação desses lugares ou à efectivação de contratos de muitos milhões de euros gastos anualmente em investimento público.

Por isso, sempre que se fala da crise dos partidos, do desinteresse da política, da falta de empenho cívico, fala-se, ainda que inconscientemente, do peso do Estado. Peso que é responsável pelo sentimento de que nada valem ideias, nada vale o mérito ou nada vale o esforço. Porque, no limite, tudo está dependente das boas graças de uma máquina central que é alimentada pelas máquinas dos partidos. Que vão tendo menos capacidade de atrair jovens com competências porque na verdade ali não se trata de sonhos, de ideias, de vida, mas de empregos, de sinecuras, de 'tachos'.

Romper este círculo é fazer a reforma do Estado. Diminuir o seu peso, torná-lo transparente, dotá-lo de uma espinha dorsal profissional (e não de membros do aparelho político que está no poder).

Não é por acaso que este tema é um dos menos referidos no discurso político de ambos os partidos que têm estado no Governo.

Sem comentários: