terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, apertou a mão do chefe de Estado cubano Raúl Castro. Foi quando subiu ao palanque onde estavam sentados os dignitários que assistiram, esta terça-feira, à cerimónia em honra de Nelson Mandela, em Joanesburgo, e na imprensa internacional surgiu a pergunta: estão os velhos inimigos da Guerra Fria à beira da reconciliação ou tratou-se apenas de boa educação num funeral?
As televisões registaram o momento, mas apenas isso. Obama sobe as escadas de acesso ao palanque presidencial no estádio do Soweto, em Joanesburgo. Vai proferir o seu discurso de homenagem ao combatente do apartheid, que morreu na quinta-feira à noite. Os líderes mundiais estão nos seus lugares e, quando chega ao topo da escada, Obama estende a mão para o primeiro, que é Castro. O cumprimento é rápido e trocam uma frase; Obama parece estar já concentrado em Dilma quando regressa ao cubano, que ainda fala para ele. Só a seguir dá um beijo à Presidente brasileira e segue com os cumprimentos.
Fortuito ou intencional, o aperto de mão foi histórico. Desde a revolução cubana que um Presidente americano não cumprimentava um cubano. Em 2000, na Cimeira do Milénio das Nações Unidas, Bill Clinton apertou a mão a Fidel Castro, mas foi em privado, durante um almoço à porta fechada, e Clinton já não estava na Casa Branca. Noutras ocasiões em que estiveram no mesmo recinto ao mesmo tempo, os dirigentes dos dois países fizeram por não coincidir.
O Miami Herald – nesta cidade da Florida vive uma importante comunidade cubana – questionava se o aperto de mão foi o prenúncio de mudanças nas relações entre os dois países. Mas, ao mesmo tempo, sublinhava um aparte do discurso de Obama que, na sua perspectiva, parecia dirigir-se a Cuba. "Há muitos que dizem ser solidários com a luta de Madiba pela liberdade, mas que não toleram a dissidência do seu próprio povo", disse o Presidente americano.
Foi, porém, com Obama que as relações entre os dois inimigos da Guerra Fria começaram a descongelar, com o fim de algumas proibições. Os cubanos já podem viajar para Cuba para visitarem familiares – as viagens turísticas estão ainda vedadas aos estadunidenses – e já podem enviar dinheiro para a ilha. O número de oferta de voos aumentou (pode partir-se de 12 aeroportos) e já há outras viagens autorizadas dos EUA para Cuba – as que têm motivos religiosos, académicos, culturais e desportivos.
Recentemente, diplomatas dos dois países reuniram para discutir o retomar da livre circulação de correio entre os dois países, proibida pelos EUA desde 1963, mas as negociações foram interrompidas.
Apesar de, desde 2000, estar autorizada a exportação de produtos alimentares americanos para Cuba (com muitos limites), o embargo à ilha permanece. O Governo de Havana recriminou várias vezes Obama, por não ir mais longe no levantamento do embargo. Esta terça-feira, no portal do governo cubano, o gesto era comentado oficialmente e lido como "um sinal de esperança". "Obama cumprimenta Raul: que esta imagem possa ser o princípio do fim das agressões dos Estados Unidos contra Cuba", era a frase no portal, misto de crítica e de incentivo a Obama para negociar as sanções.
No início de Novembro, Obama esteve numa acção de angariação de fundos do Partido Democrata perto de Miami e aproveitou para falar aos cubanos da Florida, em especial aos mais velhos, que rejeitam a reaproximação enquanto o regime castrista perdurar. "Quando Castro chegou ao poder, eu tinha acabado de nascer. Temos que perceber que as políticas que aplicámos em 1961 não têm o mesmo efeito hoje, que estamos na era da Internet. Não faz sentido", disse o Presidente, defendendo uma abordagem política "mais criativa" e mais "actualizada" à questão cubana.
Esta terça-feira, Obama apertou a mão a Raúl Castro. O que disseram? Só eles (e talvez a brasileira Dilma Rousseff) sabem. Castro anunciou que deixa a presidência cubana em 2018. Obama, que disse várias vezes querer fazer progressos nas relações com Cuba, tem menos tempo – em Janeiro de 2017, deixará a Casa Branca.

 

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