'Futuro' de Nadir Afonso no Porto
"Nadir Afonso podia, simplesmente, ter parado de produzir e seria já um grande nome da pintura. Mas não pára". Foi desta forma que José Leite Pereira, director do JN, acolheu, ontem, a inauguração de "Futuro", exposição de 27 obras recentes do pintor transmontano que, aos 87 anos, não coloca outra hipótese que não seja criar.
No seu regresso à Galeria do Jornal de Notícias, 28 anos depois da sua última mostra neste espaço, Nadir Afonso apresenta acrílicos sobre tela e guaches sobre papel, numa exposição que permite conhecer parte da sua obra mais recente, sendo que "Apolo" e "Gôndolas", dois trabalhos de grande dimensão, datam deste mesmo ano.
"Dizem-me que faltei à promessa de representar o real", começou por explicar o pintor. "Mas andei enganado dezenas de anos. Sentia que a arte era espiritual, só falava do mundo interior, e hoje reconheço que é tudo falso. A pessoa evolui... Há leis da matemática que existem na geometria das formas. A obra de arte não é a representação dos objectos, mas sim um fenómeno puramente intuitivo que não é dizível. O que conta na obra de arte são as leis do quadrado ou do círculo, mas de uma maneira intuitiva".
Na presença "dos antigos amigos, dos rapazes do meu tempo", como Júlio Resende e Fernando Lanhas, Nadir Afonso contou ainda com inúmeras individualidades que assim lhe vieram prestar homenagem. Foi o caso do ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, que, num breve discurso, considerou que "a identidade dos povos, que está nos artistas, é a única coisa que não se dilui com a globalização".
José Leite Pereira, por seu turno, fez questão de salientar o facto de tanto a primeira exposição desta galeria, como a segunda - a Colecção Berardo e a mostra de Júlio Resende, respectivamente - terem atraído mais de cinco mil pessoas cada. "Olhar para o livro da galeria e ver que há pessoas que confessam ser a primeira vez que visitam uma galeria de arte é recompensador", disse.
O êxito da Galeria do Jornal do Notícias junto do público foi também destacado por Joaquim Oliveira, presidente do grupo Controlinveste, que chamou a atenção para o facto de, "na cidade do Porto, a cultura, mais especificamente a promoção e divulgação das artes, estar a cargo dos privados". O responsável referiu ainda a relevância desta mostra, tratando-se de Nadir Afonso, "a referência suprema da geometria na arte".
A exposição - cujas criações fazem parte do acervo da colecção da futura Fundação Nadir Afonso, edifício desenhado por Siza Vieira que será inaugurado em Chaves, terra natal do pintor - está patente na Galeria do Jornal de Notícias até 26 de Agosto, de segunda a sexta-feira, entre as 11 e as 20 horas, e aos sábados, das 15 às 20 horas.
O Mestre continua a dar que falar.
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