domingo, 12 de agosto de 2007

Portuenses em Lisboa

De uma entrevista de Nicolau Santos, no Expresso de ontem, a Rui Veloso e Carlos Tavares:
"Um tem 50, outro 54. Amam o Porto, onde foram criados, mas vivem há muito em Lisboa. E têm uma visão crítica sobre a Cidade Invicta, que quis imitar a capital"
NS - O Porto perdeu dinâmica?
RV - O Porto perdeu protagonismo, perdeu charme, perdeu muitas coisas que já teve. As pessoas do Porto têm culpa por não fazerem, em vez de estarem à espera. Talvez o exemplo não seja bom, mas o Alberto João faz-se ouvir a toda a força. Mas faz-se ouvir porque reivindica e consegue. Há uma mentalidade centralista no país, que já vem dantes, e continua.
NS - Lisboa é culpada?
RV - Hoje não se justifica culpar só Lisboa pelo centralismo. O centralismo existe por culpa própria também.
NS - Então o que correu mal com o Porto?
CT - (...)Com a acentuação do investimento nos bens não transaccionáveis, no imobiliário, nos serviços, a natureza industrial do Porto, que era a sua grande força, foi caindo, foi desaparecendo e foi prosperando o sector financeiro. Alguns bancos ainda têm sede no Porto, mas as suas administrações vivem em Lisboa, porque os centros financeiros estão aqui, os serviços públicos também e a componente industrial da economia tem vindo a cair.
NS - Faltou mais reivindicação?
CT - Não é uma questão de reivindicação... O Porto teve o comportamento de muitas cidades do interior. Há uns anos as diferenças entre Lisboa, Évora, Beja, Covilhã, Vila Real eram abissais. Hoje, essas cidades beneficiaram de vias de comunicação mas também da iniciativa de muitos autarcas, a ponto de algumas delas terem rendimentos "per capita" maiores ou idênticos à média nacional. E o Porto tem tido um percurso inverso.
RV - E se formos ver a programação cultural dessas cidades, Braga, Famalicão, passa o Porto claramente.
CT - Se é verdade que as consequências da política económica geral penalizaram o Poto, também é verdade que o Porto não consegui readaptar-se aos novos tempos. Tem perdido muitos empregos, tem perdido influência. O Porto seguiu o pior caminho, que foi tentar imitar Lisboa.
RV - Em relação à parte cultural, o Porto perdeu muito. Em 1985, era uma cidade culturalmente activa, mesmo antes do 25 de Abril. E não devia ter perdido. Nós temos a Galiza muito perto. E todas as cidades têm programações culturais muito interessantes e contínuas. O Porto, em termos de oferta cultural, tem pouco. Eu tive muitas esperanças que com o seu dinamismo, com a sua tradição cultural e liberal, o Porto ainda conseguisse ultrapassar Lisboa nesse aspecto. E a desilusão para mim ainda é maior.

O texto vai grande, pelo que não o alongo mais com comentários, que deixo para outros que o queiram fazer.

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