É incerto o caminho que se seguiria a uma saída de Portugal do euro. O deputado João Galamba admite-o, mas também deixa claro que, como está, o projecto da moeda única caminha a passos largos para a implosão.
Porque é que o euro é uma “arma de destruição maciça”?
Neste momento, o euro é insustentável. O primeiro-ministro disse que se não cumprirmos podemos sair da zona euro. Esta estratégia do primeiro-ministro vai acelerar o processo de desagregação da zona euro. Ela é insustentável porque constitucionalizou a austeridade – receita para a depressão económica – e tem como único indicador de competitividade os salários. Sempre que um país tem défice externo a resposta é “empobreça-se o país e reduza-se os salários”. A política de austeridade, junto com a política de desvalorização salarial, em curso em toda a Europa, introduz um enviesamento recessivo na política da zona euro. O euro, na sua configuração actual, só pode piorar a situação actual, que já é trágica. Isto levará a uma revolta das populações que pode pôr em causa os regimes democráticos mais frágeis.
Não há sinais de que o euro venha a ser repensado. É preciso pôr a saída do euro em cima da mesa?
Respondo-lhe em primeiro lugar que, para que o euro sobreviva, é necessário ter como prioridade o crescimento, o emprego e o desenvolvimento económico. E, em segundo lugar, digo que se não houver nenhuma possibilidade de adoptar este tipo de estratégia, então o euro acabou. Seria certamente dramática uma saída do euro.
Portugal continua a ser visto como um bom exemplo.
Por isso é que é uma urgência nacional que este governo saia. Não sei se as negociações podem ou não correr bem, mas sei que enquanto houver um governo que cegamente continua a apresentar Portugal como bom exemplo, dificilmente a Europa saberá realmente o que se passa no nosso país.
E é importante repensar a forma como são aplicados os fundos públicos?
Do modo que o primeiro-ministro defende, digo-lhe rotundamente que não. Todo e qualquer governo deve ter uma agenda reformista que vá adaptando as despesas públicas à realidade. Mas numa altura em que temos 20% de desemprego e a economia num espiral recessiva, cortar na despesa é sempre irracional.
O primeiro-ministro disse que o problema do país não está nas taxas de juro, mas na dívida. Concorda?
As taxas são um valor relativo. Taxas de 4% quando a inflação é de 3% e quando a economia cresce não é a mesma coisa que estar em inflação muito baixa – como estamos hoje – e quando parte dos nossos parceiros se financiam a taxas reais negativas. Acresce a isto que há outros programas – Chipre e Espanha – em que as taxas são mais baixas que as portuguesas. No mínimo, essas taxas de juro deviam ser uma exigência imediata do governo português.
São essas taxas que impedem a recuperação económica?
O que está a impedir a recuperação é a política de austeridade em Portugal e em toda a Europa. É a principal determinante do crescimento económico negativo. É a política de austeridade que deprime a procura interna. Se há uma dívida que impede o crescimento económico é a do endividamento privado, que bloqueia a possibilidade de termos uma retoma do crescimento através do sector privado. No caso português, parte da dívida é detida por estrangeiros e é um pagamento que sai da economia portuguesa. Nesse sentido, afecta o crescimento porque é dinheiro que sai da economia. É a dívida externa pública e privada que retira dinheiro à economia portuguesa.
TODOS OS CONTRIBUTOS LEVAM AO ENFRAQUECIMENTO DA EUROPA POR CULPA PRÓPRIA. ESTE MODELO ESGOTOU-SE. FALIU.
Sem comentários:
Enviar um comentário