segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Rui Tavares e o seu novo partido

Henrique Monteiro
Confesso já que gosto de Rui Tavares, embora no essencial não concorde com as suas posições políticas. Por isso, quando ele coloca a hipótese de criar um partido, não visa pessoas que pensam o que eu penso, embora vise pessoas como eu, quando afirma (e cito a entrevista que deu ao Expresso): "Muita gente não sabe em que partido votar. Eu não sei".
Também concordo que os "partidos são gargalos da atividade política", como afirma, no sentido em que se fecham sobre si próprios e impedem a abertura à sociedade, e que o Bloco de Esquerda, de que ele aceitou ser deputado independente (depois o Bloco zangou-se com ele, ou vice-versa) se tornou num partido antigo, dos anos 70, que aliás o faz perder apoios. Concordo ainda com primárias para escolher o candidato de um partido a primeiro-ministro, com listas abertas, com a possibilidade de os eleitores ordenarem as listas, com a conjugação de círculos uninominais com um círculo nacional eleito por método de Hondt para repor a proporcionalidade. Ou seja, concordo com muitas questões de forma que Rui Tavares vem trazer à política e saúdo-o por isso.
Concordo, mesmo, com a sua previsão política, que é clara e evidente: em 2015 vamos ter um Governo PS/PSD ou PS/CDS e isso devia fazer acordar a esquerda!
Mas Tavares não percebe ou não quer perceber a esquerda atual. É totalmente conservadora e avessa a qualquer mudança. Concedo que a direita é igual e esse é, até, o principal impasse português que podia ser quebrado com novas formações partidárias.
Tavares dá o exemplo do que Lula fez no Brasil, mas esqueceu-se de que o partido que fundou para as pessoas simples, o PT, (cito um jornalista brasileiro) começou por ser um partido de presos políticos para ser agora (depois do 'mensalão') um partido de políticos presos. Igual ou pior do que os outros.
O único eurodeputado português verdadeiramente independente tem ótimas intenções, mas esquece um aspeto que ele achará o cúmulo do meu conservadorismo: a natureza humana não muda facilmente. Tavares quer uma esquerda moderna, desinibida, pronta a fazer concessões (ele foi contra a moção de censura do Bloco ao Governo Sócrates e foi sempre a favor de um entendimento geral que envolvesse o PS e o PCP). Não quer uma esquerda pura e dura anti-poder como os dirigentes do PCP e do BE. Nem sequer como certa ala do PS que tem impedido acordos dos socialistas com o Governo. Em Portugal o compromisso é mal visto, seja entre partidos de esquerda, seja entre partidos de direita (vejam-se as birras, esquivas e artimanhas de Portas e Passos), seja ao centro. Ele é historiador e tem de saber que qualquer compromisso, que envolve cedências mútuas, é visto na nossa cultura política como uma fraqueza. Na arena de São Bento e nos partidos são todos uns machões ibéricos do pior. A nossa cultura é a do "agarra-me senão eu mato-o", mesmo que ninguém esteja a agarrar ninguém.
Ainda assim, gostava que ele fizesse o partido que se propõe e que tivesse sucesso. Por algum lado o impasse na política portuguesa tem de ser desfeito.
 
JÁ APARECERAM MUITOS NOVOS PARTIDOS QUE DEPRESSA DESAPARECERAM.
OS QUE EXISTEM É QUE TÊM DE MUDAR.

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