A paciência dos que me lerem é fundamental, para podermos entender o que se vai passar em Portugal nos próximos tempos e discutir com propriedade e reflexão o Mundo em que vivemos.
O Mundo não pára, a Globalização está em recuo, A Europa tenta resolver os seus problemas e não são poucos, a pobreza aumenta, do terrorismo já não se fala ou pouco, o neoliberalismo reorganiza-se, a política reinventa-se. os partidos revêem os programas e as tácticas, a sociedade civil acorda e participa, as guerras sucedem-se, a economia moderniza-se, o trabalho é um bem imprescindível, a produtividade aumenta, o comércio internacional abre-se a todos mas em condições defensivas, o clima altera-se, o ambiente está cada vez mais poluído e por aí adiante, que este Mundo já não é o que era, nem será no futuro o que é. As mudanças sucedem-se. Os POVOS movimentam-se.
Vem esta introdução a propósito de um artigo de opinião que li num semanário e que despertou a minha curiosidade e análise de alguns pontos de maior interesse.
O lançamento de um livro e a análise de dois anos de governo pelo "Compromisso Portugal" formado por gestores e empresários portugueses.
Com 3 anos de existência, pois foi a 10 de Fevereiro de 2004, que o Compromisso Portugal juntou, pela primeira vez, centenas de gestores e empresários, onde pontificavam António Carrapatoso, António Mexia , Diogo Vaz Guedes, Alexandre Relvas e Filipe Botton. Hoje só Carrapatoso continua activo, tendo-se juntado ao grupo Joaquim Goes e Rui Ramos.
Se do livro pouco ou nada terei para dizer pois não o li, o título é muito sugestivo "Os Revolucionários"-Passado, presente e futuro do liberalismo em Portugal.
Com textos de Carrapatoso, Alexandre Relvas, Rui Ramos e Vasco Pulido Valente e coordenação de Miguel Coutinho.
Revolucionar a economia e o social, parecem-me objectivos claros deste pensamento dos gestores e empresários.
Quando li o título, que parvoíce minha, pensei que íamos entrar num PREC II e que estaria em marcha um segundo 25 de Abril.
Afinal as palavras de apresentação no semanário SOL, mais não são do que uma chamada de atenção para um novo momento de debate em torno das propostas que Compromisso Portugal vai apresentar ao País e para o livro que vai ser posto à venda dentro de uma semana.
Ninguém tenha a ousadia de reclamar para si o uso da palavra "Revolucionários", pois ela existe e é de livre utilização. É apenas uma questão semântica e que os autores lá saberão explicar o porquê. Revolucionar a economia e o social dentro dos padrões da Globalização sem regras, na defesa do Mercado de capitais livre e sem controlo e por um Estado com governos fracos e sem poder, não será uma revolução mas uma contra-revolução. Deixar os ossos ao Estado e entregar a carne aos privados não é uma revolução séria e pode provocar revoltas, grandes descontentamentos, confrontações e talvez guerras. Todos os dias se fala em privatizações, na educação, na saúde, nos transportes ainda não, na ANA, nos aeroportos, na Administração e até agora nos cemitérios. Mas a realidade mundial começa a alterar-se e alguns que ontem eram grandes defensores da economia de mercado e da Globalização, começam a chamar a atenção para as consequências que certas regras impostas a alguns países pelo FMI, Banco Mundial e Tesouro Americano, não deram bons resultados. Só para citar dois ou três: A Rússia com mais pobres e sem classe média, o Brasil idem, A Indonésia e a Tailândia e os países da América Latina onde a Argentina sucumbiu. As regras impostas pelo FMI e o Banco Mundial falharam.
Só a China e a Coreia que não aplicaram a receita destas organizações internacionais, introduzindo a economia de mercado de acordo com os seus interesses. as ajudas com determinação e controlo, conseguiram desenvolver-se.
Temos de uma vez por todas definir se queremos uma economia de mercado ou uma sociedade de mercado?
Uma economia de livre comércio comandada pela OMC e tendo como alavanca o Mercado de Capitais livre e os offshores?
Uma economia onde o desemprego aumenta exponencialmente?
Uma sociedade tipo Capitalismo Popular da Senhora Teacher de má memória, onde se dizia sem vergonha "Quem não trabalha não tem direito a comer"usando uma parábola.
Ou como dizia Mário Soares na sua entrevista há uma semana ao Expresso: "Há hoje um relatório nos Estados Unidos, onde se diz que o grande inimigo já não é o terrorismo, mas o perigo que podem representar as populações do Sul, famintas, vítimas do subdesenvolvimento e das catástrofes naturais, procurando desesperadamente entrar nos países ricos do Norte. E a única resposta possível - diz o relatório - será a sua exterminação em massa. Vejam! Trata-se de preconizar o regresso à barbárie... Depois do humanismo iluminista e, apesar de tudo, de dois séculos de progresso"
No essencial e porque não posso alongar-me muito, algumas afirmações retiradas do artigo de opinião, que não serão comentadas por mim, mas terão como resposta em alguns parágrafos do livro "Os Novos Senhores do Mundo" de Jean Ziegler, relator especial nas Nações Unidas para o Direito à Alimentação e professor de Sociologia em Genebra.
Mas antes não ficaria bem com a minha consciência, se não lembrasse as palavras sábias do poeta cantor já falecido Zéca Afonso "Eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada...".
"Entendemos que é importante fazer neste momento uma análise do que foi feito porque estamos a meio percurso da legislatura", enfatiza. "Como sucede em qualquer empresa". Começa mal O Compromisso Portugal. O Estado e o Governo não são qualquer empresa. São muito mais.
E pensava eu, que ingénuo, que quem controlava o executivo era a Assembleia da República, o Tribunal de Contas, o Banco de Portugal. o INE, o Presidente da República, a comunicação social, as Instâncias Internacionais como a OCDE, Banco Mundial, FMI e outras, a Comissão Europeia, etc.. Agora são em primeira linha os gestores e empresários.
""O trabalho que foi divulgado é continuidade do que foi feito". Ainda bem que a sociedade civil se interessa com o nosso futuro. Mas vale a pena recordar um ditado popular "Não vás sapateiro além da chinela".
"Depois faremos algumas sugestões e propostas que permitam o cumprimento desses objectivos nos próximos dois anos". Espero que Mário Soares não tenha razão. O défice está mais ou menos controlado e as finanças públicas saneadas. A Administração Pública e as Privatizações vão seguir em frente. Agora já não precisamos de José Sócrates e quem dita as regras somos nós, senão...
"O importante é avaliar os resultados concretos de cada política e em cada área analisada, com base em indicadores e números tão objectivos quanto possível, como se faz nas empresas". Mas o Estado não é empresa. Tem de olhar pelos mais desfavorecidos e por aqueles que são excluídos.
Depôs mais uma série de questões que não posso nem devo tratar: novas formas de a sociedade se organizar e funcionar; um novo papel do cidadão; o novo modelo social; a organização do estado; mercados abertos e flexíveis; a aposta no ambiente; a inspiração liberal; a conclusão.
Áreas de grande sensibilidade e que devem ser tratadas com respeito pelas pessoas e não pelos números e pelos lucros das empresas. Porque como dizem e muito bem " o que está em causa é o nosso futuro e o dos nossos descendentes".
Não são esquecidas mais privatizações, pensões públicas assentes na capitalização, ou seja, em que cada um desconte para si próprio e não para um bolo, que levaria ao fim do estado social e da Europa Social digo eu.
Na conclusão e para terminar: "Correr o risco de indispor o Estado, o Governo, opinion makers estabelecidos ou outros interesses poderosos, todos seus potenciais ou efectivos clientes, reguladores, empregadores ou fazedores de imagens. Mas havendo riscos a correr, a causa é nobre e valerá a pena.
Há até propostas e afirmações que não me importaria de subscrever, porque soam bem ao ouvido. Mas aguardo com serenidade a publicação do livro e a análise e propostas que serão apresentadas.
Depois de ter lido defensores acérrimos da Globalização e da economia de mercado como o Prémio Nobel da Economia 2001 Joseph E. Stoglitz e outros, o ex-primeiro-ministro francês Dominique Strauss-Kahn, Jean Ziegler relator na ONU, e os pensamentos de Edgar Morin "Os problemas do fim de Século" fico sempre de pé atrás com Revolucionários do Liberalismo à Portuguesa, quando se começam a movimentar no Mundo forças poderosas que querem rever esta Globalização e a actuação do FMI e Banco Mundial.
Será que o Compromisso Portugal desta vez se atrasou no tempo? Ou pretende aplicar em Portugal o "Consenso de Washington"? Aguardemos.
Para não vos roubar hoje mais tempo amanhã, como complemento, prometo continuar, com as palavras de um conceituado sociólogo sobre a ideologia dos senhores, para que este trabalho fique completo e cada um tome a sua posição.
Está de parabéns a sociedade civil que começa a despertar e nada será como dantes.
Carlos Pinto
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