sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Mais de 450 mil pessoas assinaram desde ontem uma petição online para que o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, se demita, depois de o jornal El País ter publicado documentos que revelam a existência de uma contabilidade paralela que durante duas décadas permitiu aos dirigentes do Partido Popular (PP) beneficiar de dinheiro recebido de donativos empresariais.
Disponibilizada na plataforma Change.org e divulgada nas redes sociais desde ontem com etiquetas como #Rajoydimisión ou #quesevayantodos, a petição exige a “demissão da cúpula do PP” e de “todos os que receberam dinheiro ‘negro’”.
O El País garante que vários dirigentes destacados do PP confirmaram a contabilidade paralela revelada pelos documentos que publicou. Um deles é o actual presidente do Senado, Pío García Escudero, que logo ontem confirmou ter pedido um empréstimo de cinco milhões de pesetas ao partido para reconstruir a sua casa em Madrid, destruída por um atentado da ETA. Outro é Jaume Matas, ex-ministro do Ambiente de José Maria Aznar.
Dois vereadores do PP pediram entretanto a demissão, manifestando o seu espanto com as notícias vindas a público. Eduardo Junquera, vereador de Gijón, ironizou dizendo que se demitia por "motivos de saúde: não por estar doente, mas para não me pôr doente por causa do caso Bárcenas", relata o El País.
Mas a reacção oficial do PP, através de Dolores de Cospedal, secretária-geral do partido, e de Soraya Saénz de Santamaría, vice-presidente do Governo, foi negar a veracidade dos documentos do El País e garantir a honestidade de Mariano Rajoy.
"Sempre vi em Mariano Rajoy uma conduta exemplar e o exemplo de uma vida correcta e dedicada ao serviço público", garantiu a vice-presidente do Governo, que trabalha com Rajoy há 12 anos, no final da reunião do Conselho de Ministros, confirmando que este sábado o primeiro-ministro dará explicações públicas sobre o caso aos espanhóis.
De acordo com o El País, Mariano Rajoy e os seus próximos estão a estudar outras formas de contestar a intensa onda de indignação causada por estas revelações. Uma possibilidade é publicar as declarações de IRS de Rajoy e dos restantes membros da direcção do PP que surgem nos papéis do ex-tesoureiro do PP, Luís Bárcenas – porque não basta negar, há que oferecer provas, defendem alguns dirigentes.
Este escândalo de corrupção está a ser revelado por causa da investigação que está a ser feita a Bárcenas, que está relacionado com o caso Gürtel, uma extensa trama de corrupção e enriquecimento ilícito que envolveu quatro comunidades autónomas governadas pelo PP e várias empresas espanholas. Bárcenas deixou de ser tesoureiro do PP em 2009 e entregou o seu cartão de militante em 2010, mas sempre esteve no coração financeiro do Partido Popular.
Os documentos revelados pelo El País, escritos pela mão de Barcenas, seriam o assentamento do dinheiro recebido de vários empresários e empresas espanholas que depois era canalizado para diversos dirigentes importantes do PP. Rajoy recebeu 25.200 euros anuais durante 11 anos, segundo estes documentos, mas não era o único a beneficiar deste esquema. Por exemplo, Dolores de Cospedal (actual secretária-geral do PP), Rodrigo Rato (foi vice-secretário-geral), Javier Arenas (ex-presidente do PP da Andaluzia, ex-secretário-geral do PP e hoje vice-secretário para a Política Autonómica), ou Ana Palacio (ex-ministra de Exteriores).

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