Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff publicaram em 2010 o estudo “Crescimento em tempo de dívida”, no qual sustentam que os países com dívidas que ultrapassam os 90 por cento do Produto Interno Bruto têm o seu crescimento fortemente afetado. Trata-se de um dos documentos mais valorizados pelos defensores das políticas de austeridade, que lançam mão daquela fasquia como um dos principais argumentos para as políticas de corte. Alvos de várias críticas nestes três anos, Reinhart e Rogoff viram agora ser-lhes apontado um problema na codificação de uma das fórmulas para o Excel.
As conclusões de R&R (Universidade de Harvard) apontam para que as economias nestas condições devam atacar o défice, independentemente da debilidade em que se encontrem. Não é uma conclusão aceite de forma pacífica e tem sido alvo de críticas ao longo destes anos.
Um novo estudo emerge neste abril de 2013 inteiramente focado no trabalho de Reinhart e Rogoff. “É verdade que a elevada dívida pública sufoca de forma sistemática o crescimento económico?” ( Does High Public Debt Consistently Stifle economic Growth?, de Thomas Herndon, Michael Ash e Robert Pollin - Universidade de Massachusetts) aponta três fraquezas na análise de R&R: duas de natureza metodológica e uma de erro de codificação estatística.
Os dois primeiros pontos já haviam sido alvo de outros ataques: Herndon, Ash e Pollin acusam Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff de fazerem um caminho de investigação ao contrário, excluindo das suas análises os casos de países que de forma evidente contradizem as suas conclusões. Será – apontam – o caso do Canadá, Nova Zelândia e Austrália, três países que no final da década de 1940 representam casos de nações com dívida elevada a decorrer em simultâneo com um forte crescimento.
Da mesma forma, R&R são acusados por Herndon, Ash e Pollin de terem conferido pesos diferentes a diferentes episódios. Trata-se aqui de uma questão metodológica, como se assinala num texto do jornalista Brad Plumer ontem publicado no portal do Washington Post.
No entanto, o terceiro só agora é apontado e por uma razão vinculada a implicações éticas da construção do conhecimento científico. No limite – e a haver razão do lado de Herndon, Ash e Pollin – tem a ver com falsificação dos resultados ou, igualmente mau, com um erro básico que não assentaria bem em dois académicos de créditos firmados, com passagem pelo Fundo Monetário Internacional e algumas das academias mais prestigiadas da América.
Herndon, Ash e Pollin procuraram replicar os cálculos de R&R no estudo, mas falharam. Ora, o documento de “Crescimento em tempo de dívida” apenas expunha as folhas de conclusão, já que os investigadores não puseram à disposição o trabalho científico de base, o que viria a acontecer depois.
Fórmula errada
Uma vez com as fórmulas de trabalho em mãos, Herndon, Ash e Pollin assinalam um erro fatal a Reinhart e Rogoff: estes terão cometido um erro na fórmula de uma das folhas de Excel do estudo ao escrever AVERAGE(L30:L44) em vez de AVERAGE(L30:L49), o que terá deixado de fora a Bélgica como um exemplo que os contrariava nas suas bases.
Em 2002 Rogoff envolve-se numa disputa com Joseph Stiglitz (ex-chefe do Banco Mundial) a propósito do livro “A Globalização e os seus malefícios”, no qual o Nobel da Economia ataca o FMI.
E não é a primeira vez que Kenneth Rogoff se vê envolvido em polémicas desta natureza. Já este ano Rogoff, que junta ao currículo o título de grande mestre de xadrez, foi acusado de ter erros básicos de computação na obra em que é co-autor “Desta vez é Diferente” (This Time is Different). Erros de tal dimensão que uma vez corrigidos deitam por terra a tese do livro.
Em Does High Public Debt Consistently Stifle economic Growth? – A critic of Reinhart and Rogoff, os autores sublinham que não é este último caso, o do erro de codificação, que altera de forma significativa os resultados do estudo de R&R ao ponto de destruir um ponto de vista. Em termos quantificados, referem Herndon, Ash e Pollin que o problema de codificação representa 0,3 pontos percentuais nos cálculos de crescimento do PIB.
Contudo, conjugados, os três erros atingem – nos cálculos de Herndon, Ash e Pollin – até 2,3 pontos percentuais, já que “a taxa de crescimento de PIB real média para países com um rácio dívida/PIB de mais de 90 por cento é realmente de 2,2 por cento, não 0,1 por cento”.
Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff usaram o mesmo artigo de Brad Plumer, no Washington Post, para deixar uma resposta. Em termos genéricos, rejeitam que a sua teoria estabeleça uma relação de causalidade (forte dívida a provocar baixo crescimento) - rejeitando o uso do termo, para lembrar que é referida a relação (association, no original) entre uma coisa e outra.
De resto, sublinham que há um sem-número de estudos que sustentam uma realidade muito semelhante àquela em que baseiam a sua análise.
"Como o desemprego foi causado pelo erro aritmético de Reinhart e Rogoff", questionou.
Harvard Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff já reagiram, sem comentarem o alegado erro na fórmula de Excel. Em comunicado, os dois investigadores sustentam que as suas conclusões são factuais e corretas.
Paul Krugman, nobel da Economia, classificou a reacção dos economistas de Harvard de "muito má", considerando que os dois investigadores "fugiram à crítica".
Harvard Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff já reagiram, sem comentarem o alegado erro na fórmula de Excel. Em comunicado, os dois investigadores sustentam que as suas conclusões são factuais e corretas.
Paul Krugman, nobel da Economia, classificou a reacção dos economistas de Harvard de "muito má", considerando que os dois investigadores "fugiram à crítica".
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