Durão Barroso devolveu hoje a bola no pingue-pongue de acusações que trava há uma semana com responsáveis franceses, apontando o dedo a "alguns soberanistas de esquerda", que têm "exactamente o mesmo discurso que a extrema-direita".
As declarações do presidente da Comissão Europeia foram feitas em Bruxelas, em resposta a um anterior ataque de um ministro francês, Arnaud Montebourg, que o acusou de ser "o carburante da Frente Nacional", o partido de extrema-direita gaulês, depois de esta formação política ter obtido ontem uma expressiva votação numa eleição legislativa parcelar no sudoeste do país.
Barroso respondeu a Montebourg, sem nunca se lhe referir diretamente: "o que não gosto de ver é que alguns soberanistas de esquerda façam exactamente o mesmo discurso que a extrema-direita. Quando se trata de reformas económicas, de abertura, de mundialização, da Europa e das suas instituições, alguns soberanistas de esquerda e da extrema-direita têm exactamente o mesmo discurso".
E acrescentou ainda que "seria bom que certos responsáveis políticos compreendessem que não é atacando a Europa e tentando fazer da Comissão Europeia o bode expiatório das suas próprias dificuldades que vão chegar muito longe", no que pode ser lido como um recado mais geral ao governo francês, de quem não se ouviu uma palavra no sentido de desautorizar ou de se demarcar das declarações do seu ministro: "no passado já vimos que isso não conduz a lado nenhum".
Declaração musculada
Bruxelas raramente se envolve em polémicas com responsáveis políticos de Estados-Membros, mesmo quando estes sucumbem à tentação de fazer da "Europa" a desculpa para eventuais dificuldades domésticas. Mas desta vez tem sido o próprio presidente da Comissão Europeia a fazer questão de responder à letra a todas as reações desencadeadas por uma entrevista sua ao "International Herlad Tribune" ("alguns dizem que são de esquerda, mas na realidade culturalmente são extremamente reacionários", afirmou Barroso, referindo-se aos que em França criticaram a Comissão por ter cedido na questão da "exceção cultural" no âmbito da negociação de um acordo de livre comércio entre a UE e os EUA).
A declaração musculada de hoje de Barroso foi feita ao lado de Arnold Schwarzenegger. Durão, começou por dizer que as suas declarações originais foram "mal entendidas", não resistindo a atirar alguma responsabilidade para a imprensa pela difusão de uma "falsa notícia", que originou uma "polémica artificial": "não quero entrar em polémicas pessoais (...), as minhas frases sobre a exceção cultural foram mal entendidas (...). Houve uma polémica absurda, como se eu próprio ou a Comissão fossemos contra a diversidade cultural. É falso, absolutamente falso". E reiterou o seu credo: "Para mim a excepção cultural é sagrada. Todos os que me conhecem sabem que sou um apaixonado pela defesa da diversidade cultural".
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