segunda-feira, 5 de agosto de 2013


Helena Sacadura Cabral é escritora, economista, foi a primeira mulher a entrar nos quadros do Banco de Portugal, odeia política mas é mãe de dois políticos.
Sem constrangimentos nem limitações, Helena Sacadura Cabral fala sobre a demissão que afinal não foi irrevogável e dos novos desafios de Paulo Portas e revela as razões de ser uma "força da natureza".
O que pensa deste Governo?
(risos) Já deu o que tinha a dar, mas como foi eleito por quatro anos, pronto... No meu caso há uma situação especial, sou por um lado cidadã, e não me demito dessa situação, e por outro lado sou mãe. Portanto, o meu filho Paulo contará comigo totalmente enquanto mãe para o acolher, para estar com ele, para ser solidária, para lhe dar força, totalmente. Nunca lhe falharei enquanto mãe.
Deu-lhe força quando ele apresentou a demissão?
Dei. Como a minha mãe me dizia muitas vezes, e eu considero a minha mãe um exemplo, "filha, eu não estou de acordo com isso, mas se é isso que queres fazer, seja qual for o resultado, estou solidária contigo".
Mas no seu caso estava de acordo...
No meu caso estava de acordo, aliás, já desde Setembro do ano passado.
Com a Taxa Social Única (TSU)?
Com a TSU.
Estava com esperança que ele saísse definitivamente...
Ah!... Com uma esperança que me levaria a Fátima. Tinha uma esperança enorme que acontecesse com ele o que aconteceu com o pai: a ruptura. E devo dizer uma coisa, leiam os que lerem esta entrevista, o que o meu filho sofreu de Setembro do ano passado até agora, só eu e ele é que sabemos. Não estou a dizer isto com grandes mágoas, quem corre por gosto não cansa. É o caminho dele, foi escolhido por ele. Eu é que estou a alombar com o resto e não escolhi nada deste caminho. Eu ando a alombar com os caminhos de toda a gente na minha vida, primeiro era o pai, depois era o outro filho, agora este filho... Eu espero, mas não tenho muita esperança, que os meus netos não sigam o mesmo caminho. Mas já estou a ver o mais velho metido nuns movimentos culturais, que começam pela cultura e acabam na política.
Já consegue perceber a área ideológica dele?
Ah... de esquerda! Então qual era a área? Já lhe disse não levas nenhumas pratas para a tua casa, isso vai tudo ser vendido antes de eu morrer. Eu a dar as minhas pratinhas à esquerda portuguesa é que não. Eu não gosto da direita, mas realmente estar a financiar a esquerda que imediatamente transformava aquilo para financiar o partido isso devo dizer-lhe que não. Antes fazer uma viagenzinha de cruzeiro, ou coisa que o valha, que vou morrer e ainda não fiz um cruzeiro (risos).
Lembro-lhe que o meu karma foi: tive o Miguel preso com 12 anos e o Paulo com um processo em tribunal aos 15. Chega!
Para não falar no Miguel, que resolveu fugir do jardim-de-infância aos quatro anos...
Nem tinha quatro, tinha três. E foi por ali acima, pediu para o atravessarem de um lado para o outro e, como não chegava ao elevador, foi o resto a pé.
É verdade que atirava os brinquedos aos polícias?
Sim. O Miguel foi muito rebelde. O Miguel era muito parecido comigo, o Paulo é muito parecido com o pai. O Miguel era muito rebelde, foi difícil, difícil.
Como é que Paulo Portas apresenta uma demissão irrevogável e volta atrás? O que acha que aconteceu?
Como cidadã, acho que ele teve exactamente o mesmo problema que teve o Gaspar: saiu-lhe a tampa.
E a causadora desse saltar de tampa terá sido a nova ministra das Finanças?
Não terá sido exactamente isso, mas a nova ministra das Finanças, que eu não tenho a honra de conhecer, mas que estudou na casa onde eu ensinei, por pouco não foi minha aluna, não me lembro da cara dela e o nome não me diz nada... mas sei lá. O problema do Paulo, em relação à dra. Maria Luís, não é um problema da dra. Maria Luís, personificado. Ele não concordava com a política que estava a ser seguida pelo ministro Vítor Gaspar e a dra. Maria Luís é a continuadora dessa política.
Vítor Gaspar admitiu falhas...
Exactamente. Portanto, há muito tempo que se sabia que o CDS, e isto estou a falar como cidadã, não tenho nenhuma informação privilegiada, porque como lhe digo não falo de política com o Paulo, não me interessa, é uma leitura dos jornais e a minha leitura pessoal, pode até ser muito injusta, mas eu não estou a ter cautelas particulares nesta conversa consigo. Portanto, acho que o Paulo disse: "se eu deveria ser ouvido na escolha da substituição de Vítor Gaspar, é escolhida uma pessoa que trabalhava directamente com ele - escolha que se pode entender porque deve conhecer os dossiês muito melhor do que qualquer outra pessoa - é promovida a ministra de Estado, a uma situação em que fica equiparada em igualdade com o Paulo... Ele terá manifestado, pelo que eu li, que não seria a solução dele, que era preciso pensar. E ela é nomeada? Saltou-lhe a tampa!
Agora com o Paulo como vice-primeiro-ministro, como coordenador da área económica, como coordenador nas relações com a ‘troika', como responsável pela reforma do Estado...
É uma brutalidade de uma pasta. Se tem arcaboiço para isso? Tem, disso não tenha dúvida! Há uma coisa que eu garanto, o Paulo é o ‘bulldozer' de trabalho, não tem mulher, não tem filhos, não tem nada. O Paulo está casado com a política. Nesse aspecto, não é isso que me preocupa. Preocupa-me um dia poder dar-lhe um AVC e ir desta para melhor. Agora se vai ser capaz ou não... Isto é um assunto que vai ter de ser gerido com pinças, porque se a dra. Maria Luís Albuquerque conseguir perceber que aquilo que estava em causa não era ela, mas a política que ela podia representar, é uma coisa. Se ela não conseguir perceber isso...
O grande problema destes dois anos de governação não foi a comunicação, foi o Governo não ter conseguido explicar, pôr o País ao corrente do que ia fazendo e porque ia fazendo. Não é comunicar, é partilhar.
Acha que ao ter voltado atrás pode ser um obstáculo?
Nós sabemos muito pouco do que está por trás de todas estas coisas.
Houve aqui muitos romances?
Eu acho que houve aqui muitos romances. Para o Paulo voltar atrás com uma decisão, há-de ter tido alguma garantia suponho eu, estou a falar como cidadã e não como mãe, de que não entrará em conflito. Algumas coisas devem ter sido combinadas de maneira a garantir a posição da dra. Maria Luís e a garantir a posição do Paulo. Eu acho que - e digo-lhe o que disse a ele - uma coligação em que o segundo partido da coligação é o terceiro elemento do Governo não lembra a um careca. Lembrou ao Dr. Passos Coelho e o Paulo aceitou. Fez mal!

UMA MÃE QUE PROTEGE COMPREENDE-SE.
 

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