Razões para um português enlouquecer
Há uma decisão da troika que em tempos foi aprovada por várias personalidades deste país na qual se afirma que é necessária uma reforma do Estado, de tal forma que a nossa dívida pública chegue a níveis sustentáveis.
Isso pode acontecer de várias maneiras, mas nenhuma evita cortes sérios na despesa do Estado. Mesmo que o PIB português cresça três por cento (não custa sonhar), e não tivermos défice público (coisa tão extraordinária que é preciso recuar a Salazar e a Afonso Costa para nos recordarmos), conseguimos em 2017 passar a dívida pública para 121% do PIB. Lá para 2040 estaremos nos níveis necessários - recordo que a crescer consistentemente 3% e com o Estado a não gastar nem mais um cêntimo do que recebe.
Se crescêssemos o dobro conseguiríamos em 2017 passar a dívida para 104% do PIB (o objetivo mirífico é de 60%). Mas mesmo que o Estado consiga gastar muito menos e obtenha saldos primários de 1,5% (diferença entre o que gasta e o que recebe descontando os juros da dívida), no caso de crescermos um por cento (ou seja o que crescemos no segundo trimestre deste ano), a dívida em 2017 continuará em 126%. Teoricamente, acima de 130% as dívidas são consideradas insolventes e só resolúveis por default, forma elegante de dizer falência (pelo menos parcial) por incumprimento do contrato.
Para resumir e não ser muito maçador, precisaríamos de saldos primários da ordem dos 5% para chegar a 2030 com os 60% de défice. Conseguir isto é - para utilizar a metáfora da diretora adjunta do Jornal de Negócios, Helena Garrido - o mesmo que pôr um "cavalo a voar".
Acresce que, as propostas para cortar nas despesas do Estado incidem sempre (ou na esmagadora maioria) sobre salários e pensões. Tais cortes para terem a menor hipótese de passar no Tribunal Constitucional têm de ser dados como provisórios. E, caso não passem no crivo do TC, entram em cena os célebres 'planos B' do Governo - receitas extraordinárias. E pronto. Tudo o que devia ser corte estrutural se transforma em corte provisório, extraordinário ou transitório.
Mas se tudo é transitório, extraordinário ou provisório, pergunta o leigo comum (como eu) quando é que se resolve isto?
Já adivinharam a resposta - nunca! Vamos vivendo assim, aguardando um programa cautelar (caso não se chegue ao segundo resgate) e esperando que o mau tempo passe. É como esperar que uma doença grave passe com o tempo.
A outra hipótese é enlouquecer e deixarmos de nos preocupar com o país.
ESTA DIVIDA E COM ESTE MODELO ECONOMICO NÃO É PAGÁVEL. PODEM DIZER O QUE QUIZEREM QUE É TUDO ALDRABICE.
SÓ EMITINDO DIVIDA A 100 ANOS COMO NO SÉCULO XIX PODE SER POSSIVEL.
A ITÁLIA HÁ MAIS DE 20 ANOS QUE TINHA DIVIDA ACIMA DE 100% DO PIB E NINGUÉM SE PREOCUPOU. O JAPÃO TEM DIVIDA ACIMA DE 280% E NINGUÉM FALA.
SERÁ QUE É UMA LUTA ENTRE NORTE E SUL DA EUROPA, OU MELHOR, ENTRE
CATOLICOS E PROTESTANTES?
VAMOS OUVIR DURANTE UNS TEMPO NO CAURELAR, EM SEGURO, EM RESGATE, MAS NADA DE APRESENTAR A SOLUÇÃO. ESTA GENTE NÃO É CAPAZ.